28.11.11

Livro agenda da TRIBO 2012
A LASANHA DE ÍCARO "Naquela tarde, enquanto a mãe lhe passava uma pomada pegajosa nas costas depois de horas brincando ao sol, a garota ouvia um som de violão, que vinha e ia com o vento. A canção dizia "agora eu era o herói e o meu cavalo só falava inglês...". Então, quando a mãe saiu do quarto, ela tirou umas penas do travesseiro e grudou-as na pomada. Rodopiou linda para o espelho, esperou sete ondas e mergulhou, pela janela. Voou em notas e acordes coloridos, contornou o prédio e, num rasante, chegou bem perto do garoto que tocava violão no jardim. Ele a convidou para se sentar, mas, ela preferiu voar e só parou mesmo quando a pomada secou, as penas caíram e uma palavra mágica foi dita lá na cozinha: lasanha!" Cristina Carnelós
O Natal do Cavaleiro sem cabeça "Quando pequena morria de medo do banheiro da casa da avó. Ouvia os primos dizerem que dentro do ralo morava um cavaleiro sem cabeça, horrível, pegando fogo e montando um cavalo muito nervoso. Naquele dia de Natal ficou tão zangada com a gozação que saiu correndo e foi se esconder nos fundos da casa, nos pés de laranja, mas, no caminho havia uma bacia cheia de panos sujos e ela caiu dentro da água ensaboada com seu vestidinho vermelho novinho, novinho. Aquilo coçou e ardeu como urtiga. Sua avó a arrastou até o banheiro, ligou o chuveiro e disse, vai se lavando que vou chamar a sua mãe. Sem alternativa, tendo o ralo entre ela e a porta, a menina sacou de sua espada (o chuveirinho) e lutou bravamente com o cavaleiro assombrado. Durante todo o banho foi uma luta terrível mesmo, ela teve até dor de barriga, mas quando o banho terminou ela descobriu que era forte e corajosa. O cavaleiro sem cabeça sumiu, feito a cabeça dele. Passou a ceia com um vestidinho emprestado, menos bonito que o seu, mas orgulhosa da certeza que, dalí em diante, poderia enfrentar o Bicho-papão e até a Cuca. A avó só não entendeu como uma criatura tão baixinha conseguiu molhar o teto para tomar um banho, mas esse é um mistério que nunca foi desvendado." Cristina Carnelós novembro de 2009